Desmatamento no Pantanal: a política que devasta um dos maiores tesouros naturais do planeta

“A licença está assinada.” Essa frase irônica resume a lógica que vem guiando o desmonte ambiental no Pantanal sul-mato-grossense. Enquanto o mundo reconhece a importância desse bioma único, o que se vê no Mato Grosso do Sul é o avanço implacável do desmatamento com aval oficial, tratado como simples formalidade burocrática. E o resultado salta aos olhos: áreas inteiras da planície pantaneira estão sendo entregues à monocultura e ao lucro imediato — com a bênção das autoridades.
Em vez de políticas sérias de proteção, o que se tem é um festival de autorizações para desmate — 20, 30 mil hectares liberados como se o Pantanal fosse uma área ociosa, sem vida. Ignoram deliberadamente que cada hectare suprimido leva consigo nascentes, fauna, pesca, turismo e o modo de vida de comunidades tradicionais.
Plantar soja no Pantanal é como enterrar sua alma. E quem lucra com isso são poucos. Mas todos pagamos a conta: com secas extremas, queimadas incontroláveis, enchentes devastadoras e a perda irreversível de um patrimônio ambiental que não tem substituto.
Sob a gestão do PSDB em Mato Grosso do Sul, o ritmo de desmatamento ganhou fôlego. Entre os casos mais alarmantes, destaca-se a licença concedida pelo Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) para a supressão de 20,5 mil hectares na Fazenda Santa Mônica, em Corumbá. Mesmo diante das contestações do Ministério Público, que apontou graves falhas no processo — como a ausência de estudos de fauna e arqueologia — o Tribunal de Justiça manteve a autorização. A decisão gerou indignação entre ambientalistas e especialistas, que enxergam no caso um símbolo do desmonte institucional da política ambiental.
E não é fato isolado. Entre 2017 e 2020, ao menos 35 mil hectares de vegetação nativa foram legalmente liberados para desmatamento no Pantanal. As autorizações se basearam em um decreto de 2015, também editado por um governo do PSDB, que permite suprimir até 60% da vegetação em propriedades privadas dentro do bioma — uma medida considerada irresponsável por quem entende a delicadeza ecológica da região.
Cientistas alertam: o impacto dessas decisões não se restringe à fauna e flora. Está em jogo o equilíbrio hidrológico de uma das maiores áreas úmidas do planeta, cuja destruição afeta diretamente a agricultura sustentável, a pesca, o turismo e o modo de vida de milhares de pessoas.
Após forte pressão social e judicial, o governo estadual publicou em agosto de 2023 um decreto suspendendo temporariamente novas licenças de desmate na planície. Mas críticos afirmam que a medida foi tardia, simbólica e insuficiente. A prometida nova legislação que substituiria o modelo atual segue fora da pauta, mantendo brechas legais para que interesses econômicos continuem avançando sobre a natureza.
A postura permissiva do PSDB frente à destruição do Pantanal vem sendo questionada por ONGs, lideranças políticas, cientistas e setores da sociedade civil. Eles exigem transparência, revisão urgente dos processos de licenciamento e a efetiva implementação do zoneamento ecológico-econômico, previsto há décadas e nunca levado a sério.
O Pantanal está pedindo socorro. E a pergunta que fica é: até quando o poder público vai fingir que não vê?