1
Justiça

Uso político e interesses ocultos: como órgãos de proteção ambiental se tornam alvos de pressão no Pantanal sul-mato-grossense

Por Wander Lopes

28/05/2025

 

O avanço do desmatamento no Pantanal sul-mato-grossense não é apenas resultado de ações ilegais ou da ganância de setores econômicos. Há, por trás disso, uma engrenagem silenciosa e perigosa: o uso político da estrutura estatal para beneficiar interesses ocultos, enfraquecendo justamente os órgãos que deveriam proteger o meio ambiente.

Em vez de atuarem de forma independente e técnica, muitas vezes órgãos ambientais — tanto estaduais quanto federais — são submetidos a pressões políticas que os impedem de cumprir seu papel. Essas pressões vêm, em grande parte, de políticos alinhados ao agronegócio predatório, à especulação fundiária ou a grandes grupos econômicos.

Em nome do “desenvolvimento” e da “produção”, há um movimento contínuo para flexibilizar normas ambientais, agilizar licenças de supressão vegetal e reduzir as exigências de fiscalização. Técnicos e servidores de carreira relatam, com frequência, serem alvos de tentativas de intimidação, exonerações e trocas de comando em secretarias e autarquias quando agem com rigor contra desmatadores ilegais ou empreendimentos com irregularidades.

Essa interferência política também atinge conselhos ambientais, câmaras técnicas e até o Ministério Público, que por vezes sofre tentativas de descredibilização ou bloqueios institucionais para não avançar com ações civis públicas.

O mais grave, porém, é que muitos desses interesses permanecem ocultos. Por trás de medidas legislativas ou de decisões administrativas, há uma rede de beneficiários que lucra com a destruição — mas evita expor sua participação direta. Grandes proprietários rurais, empresas de fachada, intermediários de terras e até operadores políticos se aproveitam da fragilidade institucional para promover o desmatamento com aparência de legalidade.

Enquanto isso, o Pantanal perde. Perde sua biodiversidade, seus recursos hídricos, seu potencial turístico e a segurança das comunidades tradicionais. E o Estado, ao ceder às pressões políticas e abandonar seu dever de proteger o bem comum, torna-se cúmplice de um modelo insustentável.

É urgente recuperar a autonomia técnica e moral dos órgãos de proteção ambiental, blindá-los de interferências políticas e garantir transparência total nas decisões que envolvem o uso da terra. Caso contrário, o que está em jogo não é apenas o Pantanal — é a credibilidade do próprio Estado brasileiro.

Publicidades

Fran 3

Mais Notícias