O Filho do Barão, a Lista Secreta e a Mordaça na Imprensa de Mato Grosso do Sul

O uso político da verba publicitária pelo Governo de Mato Grosso do Sul ultrapassou os limites da legalidade e mergulhou em um terreno perigoso de autoritarismo institucional. Não se trata apenas de gastos milionários sem critério técnico — trata-se de uma estratégia sistemática de perseguição, censura indireta e aparelhamento da comunicação pública.
Em visita recente à Secretaria de Comunicação, levamos diretamente ao titular da pasta denúncias de retaliação a veículos independentes. A resposta, longe de apaziguar, expôs a gravidade do problema: o secretário afirmou estar de mãos atadas. Segundo ele, a lista de veículos a serem beneficiados ou excluídos é ditada “de cima”, sob ordens de uma figura não eleita, conhecida nos bastidores por um apelido escatológico — símbolo de um comando paralelo que opera nas sombras da estrutura oficial.
A promessa de uma eventual reformulação, inspirada em modelos federais como o CLICMS, surge como paliativo — e até como distração. Sem romper com o sistema informal de favorecimento político, qualquer novo modelo será apenas fachada. A pergunta essencial permanece sem resposta: a “lista secreta” continuará guiando os investimentos em publicidade?
Mais grave: há relatos consistentes de interferência direta de figuras do alto escalão do governo, coagindo empresários da comunicação a cortar relações com profissionais ou veículos considerados “desalinhados”. Isso representa não apenas uma afronta à liberdade de imprensa, mas uma violação frontal à Constituição, aos princípios da impessoalidade administrativa e ao uso legal de recursos públicos.
O que está em curso não é uma política de comunicação — é um esquema de controle e silenciamento. Diante de evidências tão sérias, é imperativo que o GAECO e o Ministério Público Estadual não apenas acompanhem, mas avancem com celeridade nas investigações. Há indícios claros de uso indevido de verba pública, tráfico de influência, desvio de finalidade e intimidação institucional.
Comunicação pública não é palanque nem instrumento de chantagem. É dever do Estado informar com transparência e pluralidade. O povo sul-mato-grossense tem o direito de saber como — e com que interesses — seu dinheiro está sendo gasto.
Chegou a hora de abrir, com urgência, a caixa-preta da publicidade oficial em Mato Grosso do Sul. E de responsabilizar, com nomes e provas, os que usam a máquina pública como arma política.
Há ainda indícios perturbadores de que a estrutura de perseguição atual pode ter raízes em episódios ocorridos há anos, envolvendo figuras ligadas ao alto escalão do poder político. Segundo relatos, o filho de um influente membro do partido que hoje ocupa posições estratégicas no governo foi detido no passado por envolvimento em furtos de CDs automotivos. Um dos veículos de comunicação hoje alijados das verbas oficiais — e alvo constante de retaliações — seria justamente de propriedade da vítima que, à época, atendeu ao chamado da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (Defurv) para colaborar na identificação dos pertences subtraídos.
Desde então, essa coincidência se tornou um rastilho de pólvora silencioso. O que parecia um procedimento legal corriqueiro acabou transformando-se, ao longo dos anos, em um processo de marginalização institucional e econômica, supostamente articulado por figuras que hoje detêm poder e guardam rancores de caráter pessoal, disfarçados sob o verniz da política pública.
Se confirmado, trata-se de um uso absolutamente abusivo e vingativo da máquina estatal para punir um cidadão por cumprir seu dever legal de colaborar com a Justiça. Isso configura uma escalada gravíssima da perseguição política para o campo da perseguição pessoal travestida de política pública — o que exige investigação imediata por parte dos órgãos competentes.