Anac suspende Voepass após acidente fatal com ATR-72-500

Na última terça-feira (11), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou a suspensão das operações da Voepass, companhia aérea envolvida em um trágico acidente no dia 9 de agosto de 2024. Na ocasião, um avião modelo ATR-72-500 caiu sobre a cidade de Vinhedo, a 80 km de São Paulo, resultando na morte de 62 pessoas.
Menos de um mês após a tragédia, um relatório preliminar do Centro de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontou que a aeronave enfrentou intensa formação de gelo durante o voo — um fenômeno comum na altitude em que esse modelo opera. No entanto, o avião não reduziu altitude para dissipar o gelo, como recomendado, e os sistemas responsáveis por remover o acúmulo nas asas falharam. Sem estabilidade, a aeronave perdeu sustentação e entrou em um raro "parafuso chato", girando descontroladamente até a queda.
Para entender os fatores que levaram ao acidente e a consequente suspensão da Voepass, o Fantástico entrevistou com exclusividade um mecânico da empresa que trabalhou antes e depois da tragédia.
### "Eu já sabia que isso ia acontecer", diz mecânico
Questionado sobre as condições de trabalho na Voepass, o profissional destacou a precariedade na manutenção das aeronaves.
Repórter: Você já trabalhou em outras empresas. O que a Voepass tinha de diferente?
Mecânico: A Voepass não dá suporte nenhum para a manutenção. Faltam materiais, componentes, ferramentas… Passei por grandes empresas, boas e excelentes, mas, quando cheguei na Voepass, a diferença foi gritante.
Repórter: Como foi a reação dos funcionários ao saber do acidente?
Mecânico: Eu já sabia que isso ia acontecer com o "Papa Bravo" [apelido da aeronave, referente às duas últimas letras do prefixo]. Era o avião que mais apresentava problemas e panes. Reportávamos isso constantemente, mas a chefia insistia em mantê-lo em operação.
Repórter: Houve mudanças na manutenção após o acidente?
Mecânico: Nada mudou. Na verdade, acho que piorou.
Em dezembro passado, imagens obtidas pelo Fantástico mostraram aeronaves da Voepass estacionadas em um matagal em Ribeirão Preto, sede da empresa. Segundo o mecânico, esses aviões eram canibalizados — desmontados para fornecer peças a outras aeronaves. Embora essa prática não seja necessariamente inadequada, ele afirma que, na Voepass, era feita de maneira irregular.