Curiosidade

PF estranha repasse de R$ 20 milhões da JBS a filhos de deputado e desembargador

Escritório de advocacia dos filhos do desembargador Sideni Pimentel e do deputado Júnior Mochi faturou o valor em apenas nove meses

Por Wander Lopes

11/11/2024

Alvo de busca e apreensão em três endereços durante a operação Ultima Ratio, em 24 de outubro, o advogado Rodrigo Pimentel, filho do desembargador afastado Sideni Soncini Pimentel, recebeu, por meio do escritório no qual tem como sócio o filho de um deputado, R$ 20.857.199,71 dos irmãos Joesley e Wesley Batista, proprietário da rede de frigoríficos JBS.

Os repasses ocorreram em um período de apenas nove meses, entre dezembro 2022 e agosto de 2023. E, de acordo com a PF,  os valores podem ser maiores, pois o montante é referente apenas ao período em que ocorreu a quebra do sigilo bancário do escritório Pimentel & Mochii Advogados Associados. 

A princípio, não existe indício de irregularidade ou crime nos repasses do dinheiro ao escritório dos filhos do desembargador Sideni e do deputado estadual Junior Mochi (MDB). Um dos sócios de Rodrigo Pimentel é Lucas Mochi, filho do deputado que está em seu quarto mandato na Assembleia Legislativa.

Conforme a Polícia Federal, Rodrigo também é sócio do próprio deputado "OSWALDO MOCHI JUNIOR na empresa B&B REPRESENTAÇÃO, SOLUÇÕES MÉDICAS E DIAGNOSTICAS LTDA, que possui o mesmo endereço do escritório". Esta empresa, embora receba uma série de transferências bancárias, não tem um único funcionário, destaca a PF.

 

Mas, o relatório da PF destaca que “considerando que a JBS já esteve envolvida em esquema de corrupção conhecido nacionalmente, inclusive com pagamentos para autoridades de Mato Grosso do Sul, os altos valores das citadas transferências para o escritório de RODRIGO PIMENTEL em curto período e as suspeitas de envolvimento dele em esquema criminoso, o prosseguimento das investigações poderá esclarecer se há algum crime relacionado a tais pagamentos milionários”. 

FONTE: relatório da Polícia Federal

Nos nove meses, foram seis transferências bancárias e todos saíram do frigorífico JBS, que tem duas unidades em Campo Grande e uma em Naviraí. Os irmãos Batista, porém, tem outras duas grandes empresas no Estado. 

Em Três Lagoas os irmãos são acionistas majoritários da fábrica de celulose Eldorado e disputam com a Paper Excellence, da Indonésia, o controle da empresa que produz 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano e que obteve lucro líquido de R$ 395 milhões somente no terceiro trimestre de 2024.  

Além disso, os irmãos Batista são os proprietários da principal empresa de mineração em Corumbá. Para o próximo ano existe expectativa de que produzam até 13 milhões de toneladas de minério na região. E, pela cotação média dos nove primeiros meses deste ano, isso significaria faturamento da ordem de R$ 5,1 bilhões, uma vez que quase tudo é destinado à exportação.

ULTIMA RATIO

Rodrigo Pimentel  e a irmã, Renata, viraram alvos da investigação  da Polícia Federal por conta de supostas negociações de sentenças judiciais envolvendo seu pai, Sideni Soncini Pimentel, e o desembargador Vladimir Abreu. O sócio de Rodrigo no Escritório, Lucas Mochi, não aparece como alvo das investigações da Ultima Ratio. 

Rodrigo e os filhos de Vladimir têm escritório no mesmo endereço e, segundo a PF, Vladimir atuou em pelo menos seis ações em que Rodrigo Pimentel era advogado. 

Isso, de acordo com a investigação, aponta que há “indícios da existência de associação criminosa entre as citadas pessoas, no sentido de que as decisões dos referidos desembargadores beneficiem a atuação profissional de seus filhos advogados, possivelmente de forma cruzada entre as famílias, apontando que estes sejam seus operadores na venda de decisões”.

Em nota enviada à revista Piauí, a JBS negou relação entre o dinheiro e atos de corrupção. “O escritório Pimentel & Mochi Advogados Associados já atuou em diversas ações da empresa relacionadas a inúmeros temas e recebeu honorários por isso, como qualquer outro escritório que atue em defesa da JBS”, diz a nota.  

Fonte: CORREIO DO ESTADO

 

 

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