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Saúde

Crise na Santa Casa de Campo Grande: falta de insumos paralisa cirurgias e escancara calamidade na saúde pública

Por Wander Lopes

12/05/2025

 

Por Folha do Estado Brasil – Exclusivo

A maior unidade hospitalar de Mato Grosso do Sul, a Santa Casa de Campo Grande, vive uma das piores crises de sua história. A suspensão de cirurgias eletivas e atendimentos no pronto-socorro adulto e infantil desde o dia 10 de maio revelou uma situação de calamidade que afeta diretamente a população campo-grandense. Com corredores cheios, pacientes transferidos e salas cirúrgicas sem condições de uso, a pergunta que ecoa é: de quem é a culpa?

Falta de insumos e caos na linha de frente

A decisão da direção da Santa Casa de suspender temporariamente os atendimentos de urgência se deu por absoluta falta de insumos médicos. Sem materiais básicos, como anestésicos, sondas, cateteres e gases, os profissionais da saúde ficaram impossibilitados de garantir segurança mínima nos procedimentos — uma condição alarmante para qualquer hospital, ainda mais para o principal da rede pública.

Conforme apurou com exclusividade a Folha do Estado Brasil, a falta de abastecimento é reflexo direto de um rombo financeiro que se agravou nos últimos meses. A administração do hospital aponta a suspensão de um repasse mensal de R$ 1 milhão por parte da Prefeitura de Campo Grande como gatilho central da crise. Desde que o valor deixou de ser depositado, acumula-se uma dívida estimada em R$ 24 milhões.

Prefeitura silencia, Ministério Público investiga

A Prefeitura, até o momento, não se pronunciou oficialmente sobre os cortes. Nos bastidores, fala-se em divergências administrativas e questionamentos sobre a transparência da gestão da Santa Casa. Enquanto isso, o Ministério Público Estadual abriu inquérito civil para investigar a paralisação dos serviços e a ausência de insumos, buscando responsabilizar os agentes públicos e privados envolvidos.

O promotor responsável pela investigação, que preferiu não se manifestar neste momento, requisitou documentos financeiros, contratos de fornecimento e atas de reuniões da administração hospitalar e do Município.

População como vítima direta

Enquanto os gestores disputam a narrativa, a população sofre. Pacientes oncológicos, cardiopatas, mulheres grávidas e crianças esperam por atendimentos que não vêm. Algumas famílias relataram à reportagem que precisaram recorrer a clínicas particulares ou se deslocar para cidades do interior em busca de atendimento de urgência.

“Meu pai precisava colocar um marca-passo. Deram alta e disseram que não tinha previsão de cirurgia. Agora estamos rezando para conseguir algo em Três Lagoas”, relatou dona Marlene Ferreira, 63 anos.

Culpa compartilhada?

Especialistas em gestão hospitalar ouvidos pela reportagem afirmam que a crise é sintoma de um problema estrutural: a dependência de repasses políticos, a ausência de planejamento estratégico e a falta de transparência na aplicação dos recursos. “Se o hospital depende de um repasse extra de R$ 1 milhão para funcionar, há algo muito errado na estrutura orçamentária dele”, afirma o economista José Rubens Alves, especialista em financiamento público da saúde.

Caminhos para a saída

A Santa Casa tenta, em meio ao caos, buscar soluções emergenciais. Fontes internas revelam que há negociações com fornecedores para entregas emergenciais a crédito, e busca-se apoio do Governo do Estado para recompor os estoques.

No entanto, sem um compromisso formal e estável por parte do poder público municipal, e sem clareza sobre a gestão interna, a situação tende a se agravar. As próximas semanas serão decisivas.


Folha do Estado Brasil acompanhará de perto os desdobramentos desta crise que já se tornou um escândalo público de saúde. O povo sul-mato-grossense exige respostas — e, acima de tudo, respeito.

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