Operação afasta empresa de táxi ligada a escândalo no TJMS do aeroporto de Campo Grande
A Polícia Federal investiga a Rodar por repasse de dinheiro a filhos de um desembargador afastado por suspeita de venda de sentenças
Três meses após a operação Ultima Ratio, que levou ao afastamento de cinco desembargadores e um juiz de primeira instância sob suspeita de participação em um esquema de venda de sentenças, a empresa Rodar Serviços de Táxi e Transporte Personalizado foi retirada do Aeroporto Internacional de Campo Grande. A decisão partiu da Aena, concessionária espanhola responsável pela administração do terminal.
A investigação da Polícia Federal revelou que a Rodar transferiu pelo menos R$ 147.594 para Ana Carolina e Marcos Abreu, filhos do desembargador Vladimir Abreu, um dos magistrados afastados por determinação do Superior Tribunal de Justiça.
Dos cinco desembargadores afastados, apenas Sérgio Martins já retornou ao cargo. Os demais continuam sob investigação, que também envolveu um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, dois desembargadores aposentados e um procurador do Ministério Público Estadual.
Coincidentemente, o espaço antes ocupado pelos veículos da Rodar no aeroporto agora é utilizado por uma viatura da Polícia Federal.
O esquema financeiro
A investigação da Polícia Federal aponta que Félix Jayme Nunes da Cunha, advogado e suposto operador do esquema, era o principal sócio da Rodar. A empresa passou por uma mudança societária em 2022, quando Flávio de Moraes vendeu 80% da Rodar para Mirella Thomaz da Silva Cunha, esposa de Félix Jayme. No ano seguinte, Félix assumiu o controle total da empresa.
Entre 22 de outubro de 2022 e 12 de outubro de 2023, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras identificou três transações no valor total de R$ 1 milhão de Mirella para Flávio de Moraes. No mesmo período, Flávio repassava dinheiro para os filhos do desembargador Vladimir Abreu.
Gravações telefônicas da Polícia Federal mostram que Flávio e Marcos Abreu trocaram 71 mensagens e realizaram 21 ligações entre abril e maio do ano passado. Embora a investigação não tenha identificado o motivo exato das transferências financeiras, a principal suspeita é de que a Rodar tenha sido usada como meio de pagamento por sentenças judiciais negociadas.
Atuação irregular no aeroporto
Apesar de não possuir alvará municipal para operar como táxi, a Rodar atuou no aeroporto por cerca de quatro anos. Logo após sua chegada, taxistas convencionais foram deslocados para um ponto mais distante, na Avenida Duque de Caxias. Enquanto isso, cerca de 30 veículos particulares, vinculados à Rodar, ocupavam os espaços próximos ao desembarque.
Segundo a Aena, o contrato com a Rodar encerrou-se em 31 de dezembro de 2024 e não foi renovado. A concessionária informou que está finalizando um novo processo de licitação para selecionar uma empresa que atenda às exigências municipais, com motoristas cadastrados e taxímetros aferidos pelo Inmetro.
Mesmo após o fim do contrato, motoristas que atuavam na Rodar seguem abordando passageiros no aeroporto, oferecendo transporte sem taxímetro ou controle por aplicativo, o que caracteriza atividade clandestina.